terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Niemeyer merece uma justa homenagem

Domingo, 09 Dezembro 2012 20:04 |  |

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Muitos dos que costumavam detratar Niemeyer aproveitaram os últimos dias
para "esquecer" as críticas e bajulá-lo, aliviados com a sua morte. Muitos
o fizeram buscando mostrar dele uma figura ambígua e contraditória, que só
falava de comunismo da boca pra fora, mas que gostava mesmo é de projetar
grandes centros de poder para o Estado burguês. Por outro lado, muitos que
costumavam esquecê-lo, fizeram o caminho inverso, buscando, nos últimos
dias, atacá-lo.

O inegável em tudo isso é que não se tratava de uma figura inofensiva.
Embora com uma idade já bem avançada, sua insistência em defender o
comunismo jamais foi aceita pela elite autocrática deste país, incapaz até
mesmo de aceitar que um dos melhores filhos de sua pátria, um artista sem
par – cheio de pequenos defeitos como qualquer ser humano –, possa ter
ideias próprias e defendê-las "a muerte", como se diz em Cuba.

A figura de Niemeyer velhinho acabou se tornando útil para a grande mídia,
que aproveitou para associar suas convicções à sua idade, querendo dizer
que aquilo é coisa do passado. O que não imaginam é o quanto Niemeyer foi
capaz de irradiar seu ideário, e o quanto o fato de ele ter se mantido
comunista até o fim segue empolgando jovens do Brasil inteiro, admiradores
de suas obras e de seu caráter, sejam eles ligados ou não à arquitetura.
Aliás, em matéria de arquitetos, no Brasil, quase todos os mais
importantes foram ou são comunistas: Lelé, Artigas, Lina Bo Bardi, Sérgio
Ferro e tantos outros, muitos deles dizem abertamente que devem suas
convicções em grande medida à Niemeyer. É o caso de Lelé, agora talvez o
arquiteto brasileiro vivo mais importante e admirado pelos jovens
interessados pelo tema¹.

Niemeyer foi uma figura que jamais o povo brasileiro apagará de sua
memória. Arquiteto genial, já em 1936 impressionou todo o mundo com seus
esboços para o Ministério da Educação no centro do Rio de Janeiro. Hoje o
prédio está lá, com os azulejos de Portinari (companheiro de ideologia e
de arte de Niemeyer), e segue encantando milhares. Formado na Escola
Nacional de Belas Artes, via na arquitetura uma expressão artística, mas,
devido a forte contradição com os limites que o capitalismo impõe à
arquitetura – causa principal das contradições da construção de seus
edifícios em Brasília –, não se contentava com aquilo. Por mais
encantadora que possa ser sua arte, sua humildade não o permitia admitir
mais do que a afirmação de que no "dia em que a vida for mais humana, mais
solidária, aí sim os prédios vão ter um feitio diferente".

Participou como militante do PCB de lutas no movimento de massas. Como
professor da UnB esteve presente nas lutas da década de 60 pela
democratização e popularização da universidade brasileira, razão também
pela qual seria cassado e exilado, junto com o título de comunista. Foi
também amigo pessoal e colaborador de Luiz Carlos Prestes. Com
desprendimento louvável, quando Prestes voltava do exílio cedeu um
escritório para que servisse de espaço para os trabalhos do líder
comunista. Ainda como militante do PCB, Niemeyer lutou na década de 80
contra a degeneração política e ideológica do seu Partido.

Niemeyer lutou até o fim. Exatamente como um guerreiro que morre no campo
de batalhas: se, mesmo vivendo 105 anos (completaria 105 dentro de 10
dias), não pôde vivenciar no Brasil uma luta revolucionária que fosse às
últimas consequências, guerreou no campo de batalha ideológico
incansavelmente. É certo que a homenagem mais justa que podemos fazer a
essa grandiosa figura humana é a de nos comprometermos intransigentemente
com a luta e a vitória popular. Niemeyer nos deixou a prova de que os
sonhos não envelhecem. Com mais de um século de vida, era o mais jovem dos
brasileiros.

Camarada Niemeyer, presente!



Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes (CCLCP)

Juventude Comunista Avançando (JCA)